"Tenho feito minha obrigação nomeando-me, fazei vossa cortesia correspondendo-me"

Textos falantes porque exigem resposta, diálogo...O título é inspirado em "Relógios Falantes" de D. Francisco Manuel de Melo, um apólogo dialogal em que o autor coloca em discussão dois relógios de igreja: o de Chagas em Lisboa e o da vila de Belas, criticando a hipocrisia e frivolidade dos seres humanos. Fiquemos com o diálogo e ignoremos a superioridade moral, a pior das doenças, segundo Agustina. Diálogo com outros textos , outras artes que nos convocam para uma conversa que nos nomeia.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Revisão da matéria...em jeito de despedida

"É óbvia a observação que onde se violenta o homem, violenta-se também a linguagem." Primo Lévi
"Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo", Wittgenstein

Duas formas de dizer a importância da linguagem, é através dela que o Homem se faz; alargando o território da linguagem, alargamos o território do nosso mundo. A literatura, sendo linguagem carregada de sentido ou sentidos, interpela-nos, convoca-nos para um diálogo que nos forma e nos transforma. Só podemos ser pessoas interessantes se formos pessoas interessadas…não deixes que a ditadura do banal te subjugue, a literatura, a poesia, a pintura, o cinema, a arte em geral move-nos os afectos e activa a inteligência, apela-nos para que estejamos atentos, recusando o que é fácil, não abdicando da reconstrução de um mundo inteiro, puro e justo. Por isso te digo:
Com Pessoa interroga-te sobre quantos há em ti, busca a unidade na diversidade dos “eus” :
O eu Caeiro, mestre de todos nós porque não se pensa, porque olha o mundo sem o interrogar, apenas vê: vê o rio, a montanha, a flor e espanta-se a cada dia com a eterna novidade do mundo.
O eu Campos entre o fascínio pela máquina e a angústia de “ não ter trazido o passado roubado na algibeira” ou o desejo de “sentir tudo de todas as maneiras”.
O eu Reis que imitando os deuses na tranquilidade, na serenidade, vê de longe o tumulto e o sofrimento…e se, por vezes, é preciso abdicar, desenlaçar as mãos, convém lembrar a Lídia que “cada dia nos é dado uma só vez”….
Mas também o eu de Mensagem que se recusa a ser “cadáver adiado que procria”, incitando-nos à descoberta de ilhas escondidas no interior de nós mesmos, esse longe, essa distância, esse divino que está em nós, encoberto pelo nevoeiro da matéria, do ruído, do real.
Com Camões escuta a voz modelar, navega até à Ilha dos Amores e entende que só pelo Amor e pelo Conhecimento nos descobrimos e transcendemos. E não sejas nunca “gente surda e endurecida”, reconhece e estima os teus heróis, os teus poetas.
Com Sttau Monteiro recorda que “há homens que obrigam todos os outros homens a reverem-se por dentro”, que nos confrontam com exemplos de coragem e integridade, homens que se inscrevem, que afirmam as suas convicções, sem medo. Esses, quando morrem, deixam-nos o exemplo a seguir porque “felizmente há luar” e “todos somos chamados, pelo menos uma vez, a desempenhar um papel que nos supera”.
Com Saramago olha por dentro a humanidade, voa na passarola dos sonhos e acredita que a vontade dos homens pode mudar o mundo.
Todos estes autores, com a sua palavra poética, se empenharam na transformação da realidade, todos eles se inscreveram no seu tempo e para além dele, videntes do futuro, criadores de um mundo novo que podemos almejar ou ficar indiferente… a escolha é nossa.Com os poetas, com os ficcionistas escuta o teu coração e um dia, miraculosamente, aparecer-te-á a evidência do que dizem, porque será a tua evidência, a tua verdade, pois são os teus olhos, sempre os teus olhos que vêem o mundo e podes direccioná-los no sentido da “eterna busca da perfeição das coisas”.
Inventa a tua história, escreve aquele verso que é só teu, original e único com o qual comporás o poema da vida e …
SÊ FELIZ!
Um beijo da professora
Manuela Inácio


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